Em entrevista ao “Jornal Económico”, o governante mostrou-se cético em relação ao regresso do futebol profissional em Portugal.
A I Liga pode nem sequer retomar mas num cenário mais “dramático”, traçado por João Paulo Rebelo, secretário de Estado da Juventude e do Desporto, pode regressar e ter de parar novamente. Na primeira parte desta entrevista ao “Jornal Económico”, o governante mostrou-se cético em relação ao regresso do futebol profissional em Portugal.
António Costa disse que não teria qualquer problema em dar um passo atrás. O que é que isso acarreta no contexto do futebol português?
Isso não foi algo que o primeiro-ministro tivesse afirmado para o contexto do futebol em particular, disse-o para toda a atividade económica da nossa sociedade. O raciocínio é simples: depois de algumas semanas em sucessivos Estados de Emergência e num confinamento generalizado de todas as pessoas, à exceção de atividades consideradas essenciais, vivemos hoje uma segunda fase em que se procura criar condições para uma retoma mas sem equívocos porque o mundo não está exatamente igual ao que era há dois ou três meses atrás.
Acredita que a I Liga vai mesmo retomar?
Tenho lido e ouvido muitas pessoas a darem como adquirido o regresso da I Liga de futebol. Quando me colocou a questão inicial, colocou-a bem porque ressalvou a possibilidade de acontecer algo que impeça este retorno. É que a I Liga pode nem sequer retomar e também acontecer uma possibilidade que pode ser ainda mais dramática, do meu ponto de vista, que é retomar a competição e voltar a interrompê-la. Daí que esta possibilidade retoma tenha sido agendada para o final deste mês. Vamos estar constante monitorização e acompanhamento tendo em conta a capacidade de contágio desta doença. Vai ser preciso um entendimento entre a Federação Portuguesa de Futebol, mais concretamente os especialistas que a FPF envolveu, com os especialistas da Direção-Geral de Saúde que estão a trabalhar para garantir um conjunto de condições que implicam a saúde dos participantes e a saúde pública de uma forma geral.
O que espera desse plano sanitário?
A prevenção de riscos é uma ideia-chave. Como qualquer um de nós percebe facilmente, o risco zero é uma utopia mas tem que se perceber qual é o grau de risco e se o mesmo é aceitável. Tudo comporta algum risco, o que queremos é minimizar o mesmo.
Qual o racional de retomar a I Liga e suspender a II Liga?
Antes mesmo de existir qualquer intervenção do Estado através do Governo, essa foi uma matéria consensual porque é público que existiu uma reunião com o Governo e a Federação Portuguesa de Futebol, prévia àquela onde estiveram Liga e os três representantes de clubes portugueses, onde houve logo muito trabalho feito com os especialistas indicados pela Federação Portuguesa de Futebol e pela Direção-Geral de Saúde. Por um lado, e num momento em que queremos minimizar o risco, é evidente que estamos a maximiza-lo o risco se o alargarmos a uma população maior; por outro lado, há uma questão económica mas essa questão não foi ponderada quando se decidiu cancelar a II Liga. Todos sabemos que os clubes têm manifestado, de uma forma geral, as suas dificuldades financeiras por não haver a retoma do campeonato e que isso pode ter impactos financeiros fatais para esses clubes. Por aí, aceita-se o risco existente, por mais baixo que seja. É este equilíbrio que tem de ser encontrado.
Fonte: Jornal Económico